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Klaus Scarmeloto

O Documento Arao

Atualizado: 2 de nov. de 2021





TRADUÇÃO CASSIO DUARTE

Capítulo 10. Do livro Trotsky Amalgams: Evidência Não-Soviética/Soviética – O Documento Arao


Nikita Khruschev “reabilitou” o Marechal Tukhachevsky em 1957. De acordo com a informação que recentemente tornou-se pública passada pelo Colégio Militar da Suprema Corte Soviética no dia 11 de Junho de 1937 e foi colocada de lado no dia 31 de Janeiro de 1957. Todos os líderes militares executados foram reintegrados em suas filiações ao Partido pela Comissão de Controle do Partido em 27 de Fevereiro de 1957. (Viktorov 234)


Normalmente, havia algum tipo de estudo ou relatório preparado antecipadamente – geralmente um apelo, ou “Protesto” pelo Promotor Soviético, seguido por um relatório pela Suprema Corte. Normalmente, também, o “Protesto” do Promotor Soviético era baseado em algum tipo de investigação. Viktorov dá uma ideia bem geral do tipo de investigação que ocorreu em 1956. Mas, não podemos falar muito disso.


É claro que ali havia uma decisão de absolver os lideres militares de antemão, e que a decisão era política. Temos o decreto do Presidium do Comitê Central do PCUS reintegrando a filiação ao Partido postumamente ao Tukhachevsky e para os outros relacionados a ele. A “Comissão de Molotov” estabelecida em 1956 por Khruschev evidentemente no intuito de reabilitar oficialmente os réus de Tukhachevsky entre outros, foi rispidamente dividida. Dentro de semanas após ter cessado sua operação, Molotov, Malenkov e Kaganovich tentaram expulsar Khruschev porém falharam e foram expulsos no lugar.[1]


Por razões que nunca foram clarificadas, nos meses antes do 22º Congresso do Partido em 1961, Khruschev decidiu patrocinar outro relatório investigativo sobre o caso de Tukhachevsky. Uma comissão foi estabelecida sobre a presidência de Nikolai M. Shvernik, um Antigo Bolchevique de origens proletárias que passou a maior parte de sua carreira no Partido como um burocrata sindicalista e foi na época o Presidente da Comissão de Controle do Partido. É possível que Khruschev esperava que os pesquisadores de Shvernik descobrissem alguma evidência “bombástica” de, talvez, alguma conspiração dos militares. Se foi este o caso, ele se decepcionou. A comissão não encontrou nada desse gênero. Isso explicaria o fato de que o relatório não foi publicado durante o mandato de Khruschev, nem de Gorbachev.


A Comissão de Shvernik emitiu um relatório endereçado a Khruschev, no qual Shvernik adicionou a seguinte nota:


Товарищу Хркщеву Н.С. Посылаю Вам справку о проверке обвинений, предъявляемых в 1937 году судебными и партийыми органами тт. Тухачевскому М. Н., Якиру И. З., Уборевичу И. П. и другим военным деятелям в измене Родине, терроре и военном заговоре. Материалы о причинах и условиях возникновения дела на т. Тухачевского М.Н. и других видных военных деятелей изучены Комиссией, созданной Президиумом ЦК КПСС решениями от 5 января 1961 года и от 6 мая 1961 года. Н. Шверник. 26. VI. 1964. г.


Tradução:


Ao camarada N.S. Khruschev. Estou lhe enviando um relatório a respeito da verificação das acusações apresentadas em 1937 pelo judiciário e pelos órgãos do partido contra os camaradas Tukhachevsky M.N., Iakir I.E., Uborevich I.P. e outras figuras militares por traição à pátria, terrorismo, e conspiração militar.


Os materiais sobre as causas e condições nas quais o caso contra o Tukhachevsky M.N. e outras figuras militares proeminentes surgiram, foram estudadas por uma Comissão criada pelo Presidium do CC do PCUS por decisões de 5 de Janeiro de 1961, e 6 de Maio de 1961. N. Shvernik, dia 26 de Junho de 1964.


O Documento Arao


É razoável supor que o propósito da comissão de Shvernik era de revelar evidências que justificariam a reabilitação dos membros do Partido condenados nos três processos públicos de Moscou e nos expurgos Militares. O mero fato de tal estudo implica que quaisquer relatórios que foram preparados em 1956 para as “reabilitações” oficiais não possuíam tais evidências. Não há dúvidas que a comissão tinha objetivos adicionais de infamar ainda mais o nome de Stalin e, especialmente, os nomes de seus principais apoiadores que ainda estavam vivos – pessoas como Molotov, Kaganovich e Voroshilov.


A Comissão devidamente alcançou a conclusão predeterminada que Tukhachevsky e aqueles que foram acusados e executados com ele eram inocentes. Porém, em vez de provar a inocência deles, o relatório continha evidência que contradizia tal conclusão. Uma parte de tal evidência é o “documento Arao”.


Aqui é o quê sabemos dele, do relatório de 1964 de Shvernik para Khruschev, publicado pela primeira vez em 1993.


г) Действия разведки Японии и ее роль в "деле" Тухачевского В ходе проверки "дела" Тухачевского был обнаружен в Центральном государственном архиве Советской Армии важный документ, спецсообщение 3-го отдела ГУГБ НКВД СССР, которое было направлено Ежовым наркому обороны Ворошилову с пометкой "лично" 20 апреля 1937 г., то есть в момент, непосредственно предшествоваший арестам крупных советских военачальников. На этом документе, кроме личной подписи Ежова, есть резолюция Ворошилова, датированная 21 апреля 1937 г.: "Доложено. Решения приняты, проследить. К. В.". Судя по важности документа, следует предположить, что доложен он был Сталину. Ниже приводится это спецсообщение в том виде, в каком оно поступило к Ворошилову:


“СПЕЦСООБЩЕНИЕ


3-м отделом ГУГБ сфотографирован документ на японском языке, идущий транзитом из Польши в Японию диппочтой и исходящий от японского военного атташе в Польше - Савада Сигеру, в адрес лично начальника Главного управления Генерального штаба Японии Накадзима Тецудзо. Письмо написано почерком помощника военного атташе в Польше Арао.


Текст документа следующий: "Об установлении связи с видным советским деятелем. 12 апреля 1937 года. Военный атташе в Польше Саваду Сигеру. По вопросу, указанному в заголовке, удалось установить связь с тайным посланцем маршала Красной Армии Тухачевского. Суть беседы заключась в том, чтобы обсудить (2 иероглифа и один знак непонятны) относительно известного Вам тайного посланца от Красной Армии Nº 304." Спецсообщение подписано заместителем начальника 3-го отдела ГУГБ НКВД СССР комиссаром государственной безопасности 3-го ранга Минаевым. Фотопленки с этим документом и подлинник перевода ы архиве НКВД не обнаружены.[2]


Tradução:


(c) Ações da inteligência japonesa e seu papel no “caso” de Tukhachevsky.


No curso de verificação do “caso” de Tukhachevsky, um importante documento foi descoberto no Arquivo do Estado Central do Exército Soviético, um comunicado especial do 3º departamento do GUGB [Diretoria Principal para a Segurança do Estado] e do NKVD [Comissariado do Povo Para Assuntos Internos] da URSS, na qual foi enviada por Ezhov para Voroshilov, o Comissário de Defesa do Povo, com a anotação “pessoal”, em 20 de Abril de 1937, que foi imediatamente antes das prisões de grandes comandantes militares Soviéticos.

… Reproduzimos aqui este comunicado especial na forma que chegou à Voroshilov:


COMUNICADO ESPECIAL


O 3º departamento da GUGB fotografou um documento em língua Japonesa que estava em trânsito da Polônia ao Japão por uma bolsa diplomática e que originou do adido militar Japonês da Polônia, Savada Sigeru, endereçado pessoalmente ao diretor do Principal departamento do estado-maior-geral Japonês Nakazima Tetsudzo. A carta é escrita na mão de Arao, assessor do adido militar na Polônia.


Segue o texto do documento:


“Em relação ao estabelecimento de laços com uma figura Soviética proeminente.


12 de Abril de 1937


O Adido Militar na Polônia Savada Sigeru.


Sobre a questão mencionada no título, tivemos sucesso em estabelecer contato com um emissário secreto do Marechal do Exército Vermelho Tukhachevsky.


A essência da conversa concluiu que deveria haver uma discussão (2 caracteres e uma letra estão indecifráveis) sobre o emissário secreto do Exército Vermelho No. 304 no qual é conhecido por você.”


O comunicado especial é assinado pelo chefe assistente da 3º seção do GUGB NKVD URSS, Comissário de Segurança do Estado 3º classe Minaev. Nem a fotografia que acompanhava este documento nem o original da tradução foram descobertos no arquivo da NKVD.


Os autores do relatório de Shvernik alegaram que eles acreditavam que este documento fosse uma “provocação”, falsificado para incriminar Tukhachevsky.


Зта дезинформация была тем или иным путем подброшена советским органам японской разведкой, быть может, в кооперации с польской разведкой, а воезможно, и немецкой.


Tradução:


Esta desinformação foi passada por um meio ou outro aos órgãos Soviéticos [de segurança – GF] pela inteligência Japonesa, talvez em cooperação com a inteligência Polonesa, ou talvez com os Alemães.


O Documento Arao foi evidentemente apresentado aos pesquisadores da Comissão de Shvernik com um problema considerável. Aqui tinha evidência documentada que Tukhachevsky teve contato com a inteligência Japonesa – era, de fato, um espião Japonês!


A Comissão tentou fazer um controle de danos para descreditar sua descoberta. Em 1937, o documento foi transferido para um prisioneiro, um tal R.N. Kim, um “trabalhador” do NKVD – seu antigo trabalho não foi especificado – cujo o próprio foi preso por ser um espião Japonês. Toda a sequência de eventos merece uma atenção cautelosa.


В связи с тем, что качество фотодокумента было плохим и иностранный отдел НКВД, куда был передан для расшифровки этот документ, не смог выполнить этой работы, заместитель начальника 3 отдела ГУГБ Минаев-Цикановский предложил М. Е. Соколову, работавшему тогда начальником 7-го отделения этого отдела, выехать с документом в Лефортовскую тюрьму к находившемуся там арестованному работнику ИНО НКВД Р. Н. Киму и поручить ему, как квалифицированному знатоку японского языка, расшифровать документ. Ким был арестован 2 апреля 1937 г. по подозрению в шпионаже в пользу Японии, и следствие по его делу вел аппарат отделения, возглавляемого Соколовым.


Как сообщил сейчас в ЦК КПСС Соколов, этот плохо сфотографированный документ Киму удалось расшифровать после двух-трех визитов к нему. Ким был крайне возбужден, когда сообщин Соколову, что в документе маршал Тухачевский упоминается как исностранный разведчик. Соколов утверждает, что содержание спецсообщения, которое было направлено Ворошилову, совпадает с содержанием перевода, сделанного Кимом, причем в то время Соколов и другие его сотрудники, знавшие содержание документа, были убеждены в его подлинности. Теперь же Соколов считает, что они тогда глубоко заблуждались, и документ, видимо, является дезинформацией со стороны польской или японской разведок с расчетом, что за эту фальшивку ухватятся.


Tradução:


Já que a qualidade da cópia fotográfica do documento era ruim e a Seção Estrangeira do NKVD, onde ela foi enviada para a decodificação do documento, não foi possível completar este trabalho, o Assistente Chefe do 3º Escritório do GUGB Minaev Tsikanovskii propôs ao M. E. Sokolov, que durante este período, trabalhava como o chefe da 7º seção deste escritório, para levar o documento para a prisão de Lefortovo ao R N. Kim, um empregado da Seção Estrangeira do NKVD que ali estava preso, e deu-lhe a tarefa de decodificar o documento, já que Kim era um expert qualificado na língua Japonesa. Kim foi preso em 2 de Abril de 1937, sobre suspeita de espionagem para o Japão e a investigação do seu caso foi liderada pela equipe da seção chefiada por Sokolov.


Sokolov agora informou ao CC do PCUS que Kim teve sucesso em decodificar este documento mal fotografado após duas ou três visitas. Kim estava bem entusiasmado quando ele informou Sokolov que no documento o Marechal Tukhachevsky é mencionado como um espião estrangeiro. Sokolov confirma que os conteúdos do comunicado especial que foi enviado à Voroshilov concorda com os conteúdos da tradução feita por Kim. Além disso, na época Sokolov e outros colegas de trabalho que sabiam do conteúdo do documento estavam convencidos que ele era legítimo. Agora, no entanto, Sokolov considera que eles estavam profundamente enganados e que o documento foi claramente uma desinformação da inteligência Polonesa ou Japonesa que contavam com a nossa apreensão desta falsificação.


Há algumas questões que devem ser consideradas aqui.


*Por quê um documento de tamanha importância seria levado para um suspeito de ser um espião Japonês para ter uma tradução confiável? Se Kim fosse de fato um agente Japonês, as possibilidades que isso apresentou a ele para criar uma devastação de desconfiança dentro da liderança Soviética seriam imensas. E, realmente, não haviam experts na língua Japonesa que estavam livres, e não sobre a suspeita de serem agentes Japoneses, no qual a NKVD poderia ter recorrido?


В своем объяснении в ЦК КПСС проживающий сейчас в Москве Ким подтверждает, что действительно в апреле 1937 г. Соколов, со ссылкой на приказание наркома Ежова, поручил ему перевести с японского языка документ, который никто из работников ГУГБ, слабо зная японский языки, не смог прочитать из-за дефектов снимка. Киму было обещано, что если он расшифрует документ, то это благоприятно отзовется на его судьбе.


Tradução:


Em sua explicação ao CC do PCUS Kim, que agora vive em Moscou, confirma que em Abril de 1937 Sokolov, referindo-se a uma ordem pelo Comissário do Povo Ezhov, designou-o para traduzir do Japonês um documento no qual nenhum dos empregados do GUGB conseguiam ler, por seus conhecimentos na língua Japonesa serem fracos e pelo fato da natureza defeituosa da fotografia. Foi prometido à Kim que se ele decodificasse o documento, isso teria um efeito positivo em seu destino.


*A Comissão alega que localizou e questionou Kim, vivendo em Moscou no início dos anos 1960. Kim supostamente disse a eles que foi lhe dado o documento sobre a instrução de Ezhov junto com uma promessa não especificada que isso “afetaria seu destino de uma forma positiva”.


O Kim de 1962, no entanto, não atestou que ele foi pressionado a forjar uma falsa leitura do documento. Ao invés disso, ele afirma que ele duvidou da genuinidade do documento de primeira, e escreveu uma nota sugerindo que se tratava de uma desinformação Japonesa.


Как утверждает Ким, после перевода документа он написал еще и заключение, в котором сделал вывод, что этот документ подброшен нам японцами. Такого заключения в архивах не найдено. Документ, с которым ииел дело Ким, состоял, с его слов, из одной страницы и был написан на служебном бланке военного атташата почерком помощника военного атташе в Польше Арао (почерк этот Ким хорошо знал, так как ранее читал ряд документов, написанных Арао); в документе говорилось о том, что о том, что установлена свясь с генштаба. Все эти данные Ким сообщил в ЦК КПСС до предъявления ему текста спецсообщения.


Tradução:


Kim declara que após ele traduzir o documento, ele também escreveu uma conclusão na qual ele deduz que este documento foi passado para nós pelos Japoneses. Essa conclusão não pôde ser encontrada nos arquivos. O documento que Kim trabalhou foi composto, em suas próprias palavras, de uma página e foi escrito na forma oficial do adido militar na caligrafia do Adido Assistente Militar na Polônia Arao (Kim conhecia bem essa caligrafia já que ele tinha lido uma série de documentos escritos por Arao). O documento afirmava que um documento foi enviado para a Equipe Geral sobre o fato de um contato ter sido estabelecido com o Marechal Tukhachevsky. Kim relatou todos estes fatos ao CC do PCUS antes do texto do comunicado especial ser apresentado a ele.


Essa história fornece uma possível avenida para a refutação do “documento Arao”. Kim, o expert em língua Japonesa, escreveu que era falso, desinformação (apesar de não ser forjado – veja abaixo), mas o NKVD não passou isso adiante.


Isso criou uma oportunidade para colocar a culpa em Ezhov, que supostamente dirigiu que ele fosse entregue para uma pessoa que fosse mais receptiva em concluir o quê o Ezhov quisesse. Culpar o Ezhov permitiria culpar Stalin, o principal alvo de Khruschev, já que Khruschev alegou que Ezhov não fez nada sem checar com Stalin de antemão. Mas Kim em vez disso escreveu uma nota absolvendo Tukhachevsky. Neste cenário, Ezhov não passou a nota de Kim ao Politburo, mas também falhou em punir Kim por chegar na conclusão “errada”.


Uma outra dificuldade na discussão do documento na Comissão de Shvernik é que o oficial da GUGB Sokolov, que trouxe o documento Arao para Kim, não sabia de nada sobre a “nota” de Kim em meados da década de 1960, pois se ele soubesse, ele nunca daria o testemunho que ele deu para a Comissão.


Соколов утверждает, что содержание спецсообщения, которое было направлено Ворошилову, совпадает с содержанием перевода, сделанного Кимом, причем в то время Соколов и другие его сотрудники, знавшие содержание документа, были убеждены в его подлинности. (RKEB 754)


Tradução:


Sokolov confirma que os conteúdos do comunicado especial que foi enviado a Voroshilov concorda com os conteúdos da tradução feita por Kim. Além disso, na época Sokolov e outros colegas que sabiam dos conteúdos do documento estavam convencidos que era genuíno.


Sokolov, que supostamente lidou com Kim diretamente, não poderia acreditar que o documento era genuíno em 1937 se Kim já tinha escrito uma nota dizendo que suspeitava da legitimidade do documento, que se tratava de uma desinformação. Obviamente, a visão de Sokolov sobre o documento bona fides viria de Kim. Mas, Sokolov e seus colegas acreditaram que era genuíno em Abril de 1937. Portanto, na época, Kim deve ter acreditado nisso também.


Além disso, como poderia Kim, um homem aprisionado por suspeita de espionagem para o Japão, ter saído da prisão para “comunicar essas questões ao Comitê Central” - muito menos “antes dele ter sido apresentado com o texto”? Se ele tivesse feito isso, como poderia Sokolov e seus colegas não terem ciência de tudo isso?


O relatório da Comissão de Shvernik declara que Kim foi capaz de identificar a caligrafia do documento como a de Arao porquê “ele tinha lido uma série de documentos escritos por Arao.” O Adido Assistente Militar do Japão para a Polônia não escreveria para os Soviéticos de forma alguma, muito menos em Japonês escrito à mão. Então, podemos concluir que a inteligência Soviética interceptou outros documentos escritos por Arao, com a intenção de serem entregues ao Japão, antes disso, e estes também foram entregues ao mesmo R. N. Kim para traduzi-los. Este Documento Arao em específico foi de fato bombástico, ou assim aparenta para nós hoje. Mas, de longe, ele não deve ter sido o primeiro documento de Arao que a inteligência Soviética recebeu.


Isso significa que a estória de Kim no início dos anos 60 sobre sua “nota” era mentira. Todos os envolvidos – Kim, Sokolov e sem dúvidas Ezhov e Voroshilov – acreditaram que a nota era genuína.


A Comissão escolheu não confrontar estes problemas, e dispensou o Documento Arao como segue:


Оченивач имеющиеся японские материалы, можно сделать следующие выводы. Во-первых, "документ Арао," посланный Ежовым Ворошилову, надо признать провокационным.Эта дезинформация была тем или иным путем подброшена советским органам японской разведкой, быть может, в кооперации с польской разведкой, а возможно, и немецкой. Не исключено также, что этот документ был сфабрикован в НКВД с прямой провокационной целью или что так называемый тайный посланец, если он так объявил себя в Варшаве, в действительности являлся агентом НКВД. Во-вторых, несмотря на сомнительную в качестве свидетельства против Тухачевского, "документ Арао," дошедший до Ежова, Ворошилова и, вероятно, до Сталина, мог все же ими браться в расчет и сыграть в условиях апреля - мая 1937 года определенную роль в формировании обвинения против Тухачевского. Вместе с тем, видимо, именно неправдоподобностью этого документа надо объяснить тот факт, что на следствии вопрос о "тайном посланце Тухачевского" и о связях его с японской разведкой вообще никак не допрашивался. В деле нет ни самого документа, ни его копии. Никакой оперативной разработки вокруг этого перехваченного японского документа не проводилось; его использовали против Тухачевского в том виде, в каком он оказался в руках работника НКВД.


Tradução:


Após a avaliação dos materiais Japoneses disponíveis é possível fazer as seguintes deduções.


Primeiro: devemos considerar o Documento Arao que Ezhov enviou para Voroshilov como uma provocação. Essa desinformação foi passada por um meio ou outro aos órgãos Soviéticos pela inteligência Japonesa, talvez em cooperação com a inteligência Polonesa, e possivelmente também com a inteligência Alemã.


A possibilidade de que o documento foi fabricado pela NKVD com um propósito diretamente provocativo ou que o enviador secreto, se ele se chamava assim em Varsóvia, era na realidade um agente da NKVD, não pode ser excluída.


Em segundo, apesar do valor duvidoso como evidência contra Tukhachevsky, o Documento Arao que chegou até Ezhov, Voroshilov, e possivelmente até Stálin também, poderia ter sido levado em consideração por eles e em Abril/Maio de 1937 poderia ter cumprido um certo papel na formação das acusações contra Tukhachevsky.


Ao mesmo tempo, o fato que durante a investigação a questão sobre o “representante secreto de Tukhachevsky” e sobre suas ligações com a inteligência Japonesa não desempenharam papel algum nas interrogações poderia ser explicado precisamente pela implausibilidade deste documento. No arquivo do caso da Questão de Tukhachevsky não há o documento ou uma cópia dele. Nenhum trabalho operacional foi desenvolvido sobre este documento Japonês apreendido; foi usado contra Tukhachevsky da mesma forma na qual existiu nas mãos do funcionário da NKVD.


De acordo com a análise da Comissão, o Documento foi algum tipo de provocação da inteligência Japonesa, Polonesa ou Alemã, ou alguma combinação delas, ou possivelmente até uma falsificação da NKVD – apesar da atestação de Kim que ele reconheceu a caligrafia de Arao.


A Comissão então se contradisse alegando que o fato de que o documento não foi usado na investigação e acusação de Tukhachevsky de maneira alguma e que isso poderia ser explicado por “precisamente a improbabilidade deste documento” - e então alega que “foi usado contra Tukhachevsky.” Mas se o caso contra Tukhachevsky foi fabricado intencionalmente do começo, a “improbabilidade” do documento – presumindo que ele era “improvável” – não seria um problema. Além do mais, o Sokolov da NKVD, que lidou com Kim, pensou que fosse genuíno.


Podemos compreender melhor todas as contradições do relatório da Comissão de Shvernik sobre o Documento Arao reconhecendo que seus editores tentaram encontrar uma razão para dispensar este documento, já que eles foram encarregados de encontrar evidências para exonerar Tukhachevsky e os outros. Uma hipótese seria de que aqueles que compilaram o relatório não desejavam ocultar este documento que seus pesquisadores revelaram de seus superiores poderosos, então eles forneceram uma explicação que permitiria que seus superiores dispensassem ele, se eles assim desejassem.


Já que o relatório da Comissão nos informa que Voroshilov viu o documento e, portanto, Stalin também tinha ciência dele, a razão mais provável de que ele não foi usado na acusação de Tukhachevsky é que ele não foi necessário – outra evidência estava disponível. Não podemos saber com certeza, já que o arquivo do caso de Tukhachevsky (delo), assim como os de todos os outros réus militares, nunca foi desclassificado e apenas alguns pesquisadores selecionados foram capazes de sequer ver algumas partes dele. Mas o fato que ele não foi usado no caso contra Tukhachevsky não implica em nada sobre o fato dele ser ou não genuíno.


Não sabemos se o verdadeiro Documento Arao ainda existe em algum lugar. Sabemos dele apenas pelo Relatório de Shvernik. Ou ele se encontra entre os materiais da investigação de Tukhachevsky que ainda são ultrassecretos na Rússia hoje, ou foi destruído. Ele não é mencionado por Yuliya Kantor, autora de três livros sobre Tukhachevsky, na qual lhe é dada uma permissão especial pela família do Marechal para checar seu arquivo investigativo e em cujas obras muitas evidências podem ser encontradas onde não apontam para a inocência de Tukhachevsky, mas para sua culpa. A própria Kantor, sem pretensão de objetividade, se posiciona firmemente que todos os comandantes militares foram vítimas inocentes de uma conspiração.


O Documento Arao representa boa evidência que Tukhachevsky esteve em contato direto com as figuras militares Japonesas na Polônia. A tentativa de refutação do Documento contido neste relatório é cheio de contradições e deveria ser descartado.


Documentamos em outro capítulo que a Questão de Tukhachevsky é apresentada com destaque no Terceiro Processo de Moscou. Temos muitas evidências documentais que a conspiração de Tukhachevsky existiu. Essa evidência é relevante para nosso objetivo de verificar o testemunho dos Processos de Moscou com outras fontes independentes.



[1]Os documentos disponíveis relacionados à “Comissão de Molotov” estão publicados no Razdel III (Seção 3) do RKEB 2, 150-274. [2]Telegrama de 12 de Abril de 1937 sobre os contatos de Tukhachevsky com os Japoneses. “Tragediia RKKA,” Spravka do relatório de Shvernik, Voenno-Istoricheskii Arkhiv, No. 2 (1997), 29-31. Também em RKEB 2, 753.

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