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Klaus Scarmeloto

Declaração do Partido Comunista do Kampuchea [PCK] ao PCT da Dinamarca




por Nuon Chea Secretário Adjunto, PCK


Declaração do PCK por Nuon Chea, 1978


Em nome do Partido Comunista do Kampuchea, eu gostaria de expressar nossos agradecimentos mais profundos pela sua visita a Kampuchea. É uma grande honra e encorajamento tê-los aqui.


I. Sobre a construção do Partido 1960-67


Desde o início acreditávamos que era necessário ter um partido guiado pela classe trabalhadora e nos basear nas contradições da sociedade kampucheana. Naquela época, em 1960, a sociedade kampucheana era neocolonial e semifeudal. A contradição entre a nação kampucheana e o imperialismo norte-americano era muito aguda. Essa era a contradição externa. Como contradição interna, estava entre as mãos da classe trabalhadora e os capitalistas além dos camponeses pobres e a classe feudal. Ao mesmo tempo os capitalistas e os reacionários unidos oprimiam nosso povo. Com base nestas contradições, o partido determinou suas tarefas revolucionárias: Fazer a revolução nacional-democrática; Lutar contra o imperialismo norte-americano e as classes feudais; Libertar a nação kampucheana e os camponeses pobres. Esta linha estratégica foi abreviada para revolução nacional democrática:


(1) O partido guiando a revolução teria que ser um partido da classe operária. Teria que guiar a revolução diretamente e não permitir que outras classes guiassem a revolução ou o partido. O partido teria que definir as forças da revolução; primeiramente, as forças estratégicas na revolução, e segundo, as forças táticas na revolução.


(2) As forças estratégicas são os operários, camponeses e alguns elementos da pequena burguesia. Desses, nós vemos a classe operária como classe fundamental enquanto que a pequena burguesia era como uma força aliada. Os capitalistas nacionais eram forças suplementares. Além disso nós consideramos algumas personalidades das classes dominantes, alguns grandes capitalistas, oficiais do serviço público no governo e alguns monges budistas como forças suplementares. Aqueles que tinham uma visão patriótica, progressista e nacional, isto é, progressista em relação aos reacionários. Baseados nessas classificações de forças nós tentamos construir uma frente nacional-democrática como proposta de luta contra o imperialismo norte-americano e seus lacaios. Nós desejávamos que todas estas forças dependessem da liderança da classe operária e do partido.


(3) Nosso partido escolheu duas formas de luta: luta política e luta armada. Estavam inter-relacionadas. A luta política era promovida através da luta legal e da luta ilegal, com a ilegal sendo a forma básica de luta. Agora nós lutamos abertamente e em segredo com a luta secreta sendo a base da nossa luta. Nós definimos as formas de luta desse jeito como resultado da nossa experiência. Defendendo, expandindo e construindo nossas forças requeridas pela classe operária nesse caminho.


(4) Nós travamos a luta na cidade assim como na zona rural.


(5) A luta na zona rural era fundamental, especialmente nas áreas mais remotas e afastadas.


(6) Nós reconhecemos que deveríamos conduzir a guerra popular, superar todos os obstáculos, fazer algum sacrifício, e finalmente conquistar a vitória e lançar uma ofensiva final. Nós nunca resolvemos nos colocar em defensiva, mas sempre tomar a ofensiva.


(7) Nossa linha estratégica toma estas premissas: independência, soberania, autoconfiança. Estando baseadas no direito em escolher nosso próprio destino com dignidade.


(Nossa luta era baseada na solidariedade internacional com os partidos irmãos no mundo, com os povos e países no mundo que se opõem ao revisionismo, imperialismo, neocolonialismo e colonialismo de todo o tipo. Estes princípios e práticas não são novos. Eles foram reconhecidos em todo o mundo, mas nós os revisamos com vocês porque refletem em suas próprias experiências. Nós temos seguido estes princípios em nossa luta e temos aprendido a partir destes. Esta linha foi adotada no primeiro congresso do nosso partido em 30 de setembro de 1960. Eu gostaria de enfatizar que assumir essa linha na prática não era fácil. Especialmente antes de 1970. Em 1960, nós fomos cruelmente afetados pelo vigésimo congresso do Partido Comunista da União Soviética. O Vietnã também se opôs a nossa linha partidária, especialmente na luta armada, assim também como a nossa linha de independência, soberania, autoconfiança. Os vietnamitas disseram que nós tínhamos de fazer a revolução nacional-democrática com base nos documentos do vigésimo congresso do Partido Comunista da União Soviética. Eles disseram que não estava clara a forma como as classes no Kampuchea teriam que ser divididas. Eles acreditavam que a classe feudal tinha função progressista no Kampuchea e isso poderia torná-los aceitáveis para fazer a revolução conosco. Além disso, eles pensavam que a revolução poderia ser feita pelo parlamento com base na cooperação entre diferentes classes. Então agora eles continuaram e continuam a ver nossa linha como “putchista” e muito à esquerda. Mas nós defendemos nossa linha partidária. Tendo definido corretamente a nossa linha partidária e as atividades do nosso partido, nós enviamos a maioria dos nossos quadros para trabalharem no campo. Nós mantivemos apenas uma minoria nas cidades. Nosso exército foi construído a partir da estaca zero, de um exército pequeno para um grande exército. No começo nós criamos alguns corpos secretos de auto-defesa. Nós selecionamos os melhores jovens. Quase todos faziam o trabalho ilegal naquela época. Somente uma minoria atuava na legalidade; alguns no parlamento, alguns na administração, alguns na imprensa. O trabalho legal era para ir mobilizando as forças populares, mas o trabalho fundamental era baseado nas zonas rurais e em torno dos operários, isso teria que ser feito ilegalmente e secretamente. Isso significava que nossos inimigos - o imperialismo norte-americano e seus lacaios e as classes reacionárias não puderam encontrar quem estava liderando nossa revolução. Eles sabiam o nome de alguns poucos camaradas como Khieu Samphan¹. Eles pensavam que esses camaradas eram os verdadeiros líderes da revolução. Mas eles não sabiam dos verdadeiros líderes. E como eles só podiam agir contra as pessoas que eles sabiam, a maioria dos nossos líderes pôde trabalhar em segurança.


Entre 1960-67, nós organizamos e consolidamos muitas bases nas zonas rurais. O movimento em favor da produção e contra os latifundiários estava bem forte. Os camponeses juntaram suas forças contras as classes dominantes. Eles não tinham nada, mas usaram de tudo: pedras, facas, bastões, lâminas. Algumas esposas dos camponeses pobres participaram levando seus filhos para mostrá-los em frente a Assembleia Nacional. As forças revolucionárias nas zonas rurais estavam bem fortes. Nós colocamos os membros da classe operária para irem trabalhar entre os camponeses pobres e médios. Nas cidades, havia um movimento entre operários e estudantes. Eles exigiam que o governo cortasse o apoio aos Estados Unidos e mandasse embora o embaixador norte-americano. Os manifestantes queimaram a bandeira e a embaixada.²


-Na zona rural, o movimento popular eclodia. Aqueles que estavam famintos se levantaram contra os traidores, reacionários e agentes da administração. O slogan era “Fazer a Revolução Nacional Democrática”, que significava, lutar contra o imperialismo norte-americano. O espírito de patriotismo estava em alta. Todo mundo sentia que deveriam lutar contra o imperialismo norte-americano. Porém nós dividimos a luta em duas partes: a luta nacional e a luta democrática. Por último, nós levantamos slogans exigindo direitos aos estudantes, operários e camponeses; salários altos; terras aos camponeses; preços melhores para o arroz, feijão de corda e carne e melhores condições de vida para o povo. A luta abarcou grandes e pequenos assuntos, e envolveu todas as regiões e meios. O inimigo tentou nos suprimir, mas acabou derrotado porque nós lutávamos legalmente e secretamente, grandes e pequenas batalhas ao mesmo tempo. Nesse caminho nós estávamos prontos para defender e fortalecer as forças revolucionárias passo a passo.


-Através da luta, nós construímos a liderança do partido, recrutando bons quadros entre os operários, camponeses, servidores civis na administração, monges budistas e mulheres. Na luta nós estávamos prontos para forjar os quadros a partir de todas as classes. Assim as contradições em nossa sociedade aumentaram, as contradições entre trabalhadores e capitalistas, entre camponeses e latifundiários, entre trabalhadores e oficiais do governo. O inimigo tentou duramente suprimir nosso movimento. Nesta situação, confrontando estas contradições agudas, nós tivemos uma conferência entre o Comitê Central. Decidimos que não poderíamos mais continuar a luta legal. E o que deveríamos fazer era iniciar o levante. Isto foi em Janeiro de 1968. O embaixador soviético em Phnom Penh se opôs a nós. Os soviéticos disseram que o nosso partido estava fora de si em lançar a luta armada. Eles começaram a construir um novo partido voltado contra nós, reunindo pessoas que se renderam ao inimigo e que eram traidores, oportunistas e vagabundos. O Vietnã também se opôs a nossa luta armada. Os quadros vietnamitas tomaram ação contra nós, desestimulando, distribuindo panfletos como a obra de Lênin :”Esquerdismo: a doença infantil do comunismo”. Eles disseram que estávamos muito à esquerda. Nós dissemos: o Vietnã não nos ajudou! Um monte de pessoas não entendem isso. Era um momento tático em que nosso partido consolidava sua posição como independente e soberano. Nós nos damos conta de que nosso caso era diferente. Tínhamos que tomar conta da situação concreta para resolver nossas contradições sociais. A situação estava favorável para a luta armada. Estávamos unidos neste princípio e nessa linha e nosso povo apoiou a revolução de todo o coração, o levante contra as classes dominantes iniciou em 17 ou 19 províncias. Por falar nisso, não tínhamos armas e nem ajuda de fora. Tínhamos apenas algumas carabinas capturadas do inimigo. Algumas vezes tínhamos armas, mas não tínhamos munição. Algumas vezes enquanto não tínhamos munição levávamos os rifles apenas para assustar o inimigo. Passo a passo estávamos prontos para expandir nossas forças porque nós seguimos a linha partidária da guerra popular.


II. A luta armada, 1968-75


O povo nos ajudou fornecendo comida e escondendo nossos guerrilheiros e quadros. Isto fazia nossos quadros tornarem-se vigilantes em seguirem a linha do partido de se combinar com as massas e relacionar-se com as massas. O nosso exército ainda não era muito grande. Lutou com arcos e flechas, especialmente nas bases das áreas do nordeste. Nós ganhamos confiança do povo mostrando-os que as armas tradicionais poderiam matar o inimigo. O povo então acreditou na linha do partido e na revolução. O inimigo utilizou todos os tipos de armas especialmente no nordeste onde estavam as bases do nosso Comitê Central. Mas esta região era muito poderosa; o inimigo não podia fazer nada contra nós. Enquanto isso, a revolução vietnamita era um problema porque o inimigo tinha vilas estratégicas no Vietnã do Sul. Não possuindo lugar para escapar, os vietnamitas nos pediram refúgio e fizeram isso. Isso conduziu ao golpe em 18 de março de 1970 dos Estados Unidos. Os Estados Unidos participaram na tentativa de destruir nossa revolução, mas as áreas eram fortes, nós começamos a estabelecer nosso próprio poder nas áreas libertadas. Nós conquistamos imediatamente 70% das zonas rurais; se os Estados Unidos não tivessem invadido nós teríamos libertado todo o país em junho de 1970. Em 1967-68 muitas pessoas diziam que nós éramos ultra-esquerdistas; em 1970, todo mundo concordava que tínhamos uma posição correta. Todo mundo nos seguia. Países socialistas e outros países do mundo nos auxiliaram, permitindo que pudéssemos continuar nosso trabalho econômico, militar, e internacional melhor que antes. Porém, eu gostaria de enfatizar que mesmo sem condições favoráveis nós mantivemos a existência do nosso partido secreto e nós continuamos a construir pela luta secreta como uma tática fundamental. Nos tornamos mestres da situação porque tínhamos nossas bases nas zonas rurais, e porque tínhamos as forças da frente unida ³. Em primeiro lugar, nós não noticiamos nossas contradições com o Vietnã. Para ser franco, pensávamos que os vietnamitas eram nossos amigos. Mas ao invés de nos ajudar, o Vietnã começou a preparar suas forças e tentou abarcar o nosso partido todo. Havia muitas dificuldades. Tínhamos que lutar contra as tropas dos EUA-Thieu que foram enviadas para ajudar Lon Nol, ao mesmo tempo em que tentavam nos apunhalar pelas costas. Nosso partido, é claro, decidiu resolver a contradição principal primeiramente, que era conquistar a vitória sobre Lon Nol. A contradição entre nós e o Vietnã aumentou em 1973 quando o Vietnã se juntou com os EUA para a mesa de negociações. Os EUA imediatamente impuseram condições, obrigando o Vietnã a pressionar o Camboja para a mesa de negociações. Eles tentaram, mas recusamos. Os vietnamitas fizeram de tudo para minar a nossa revolução. Enquanto que o Vietnã e o Laos depuseram as armas, os EUA mobilizaram todas suas forças para bombardear o Kampuchea, todas a suas forças no sudeste da Ásia! Por 200 dias e 200 noites, para forçar-nos a aderir a mesa de negociações. Nosso partido estava resolutamente contra o cerco norte-americano. Se nós segurássemos Lon Nol e os traidores em Phnom Penh, poderíamos ganhar tempo para ampliar nossas forças. Nós decidimos lutar até o fim. Estávamos em todo o caso prontos para resistir a guerra aérea dos EUA, e por derrotarmos a guerra aérea a confiança em nosso partido cresceu. Mais e mais pessoas estavam convencidas de que a nossa linha era correta. Tenho de deixar claro que a coincidência da linha partidária não veio da noite para o dia, e nem através de estudos teóricos. Cresceu como resultado das experiências, do sofrimento do povo e como resultado do ódio de classe. Foi somente pela prática que o entendimento da linha do partido aumentou. Em 1974, um ano após a guerra aérea, nosso partido decidiu lançar uma grande ofensiva final para libertar Phnom Penh e o restante do país na estação de secas de 1975. O Vietnã naturalmente foi informado. Os vietnamitas acreditavam que os EUA não permitiriam a nossa vitória. Entretanto, eles não estavam preparados para permitir que obtivéssemos a vitória antes da vitória deles. Consequentemente eles se recusaram transportar a munição que estava sendo enviada pela China e outros países, principalmente vindo da China. Tivemos que usar munição capturada do inimigo; não recebemos nada do Vietnã. Os vietnamitas foram contra a nossa vitória porque eles queriam libertar Saigon e de lá enviar forças para libertar Phnom Penh, para construírem aqui um aparato político e criar um novo partido eliminando o Partido Comunista do Kampuchea e estabelecer uma Federação Indochinesa. Apesar destas condições adversas, nosso partido fez o seu melhor e libertou Phnom Penh em 17 de abril de 1975, duas semanas a frente da libertação de Saigon. Enquanto nós tínhamos libertado o restante do país e resguardado nossa independência e soberania, isto em junho de 1975, os vietnamitas enviaram suas tropas para ocupar nossa ilha, Koh Wai. Nós a defendemos e forçamos o Vietnã a se retirar. O que queríamos deixar claro para vocês é que ao longo do período da revolução nacional democrática, havia uma dura e complicada luta envolvendo dificuldades com a União Soviética e o Vietnã, mas nós driblamos e conquistamos a vitória.


Pergunta: Durante a época da fundação do Partido Comunista, havia uma discussão da linha política para o período de guiar ao comunismo?


Está escrito no programa do nosso partido que nós devemos continuar nossa revolução socialista e avançar para o comunismo depois da revolução nacional democrática, mas não entraremos em detalhes. Nós trabalhamos para as presentes tarefas da construção socialista após a libertação [4]. Nossas principais tarefas são defender o poder do nosso estado, continuar a revolução socialista e a construção socialista. Nós temos defendido nosso território e a soberania desde a libertação em uma feroz, e complicada luta, especialmente contra o Vietnã. Pensamos que esta luta levará um bom tempo enquanto o Vietnã tiver enormes ambições. Querem forçar o Kampuchea para uma Federação Indochinesa e prosseguirá com seus objetivos expansionistas em todo o sudeste da Ásia. Como condições de sobrevivência, nós temos basicamente resolvido nossos problemas pelos projetos dos meios de irrigação. Estamos acumulando capital para o desenvolvimento de nosso país com base na independência e autonomia.


III. Sobre a construção ideológica do Partido


Possuir uma linha política certa ainda não era suficiente para assegurar a vitória. Nosso partido tinha que ter um firme ponto de vista revolucionário. Particularmente isto é porque muitas de nossas lutas eram ilegais. Assim, algumas vezes, se nossos quadros não estivessem comprometidos ideologicamente, eles poderiam se render ao inimigo ou, uma vez capturados poderiam revelar segredos aos inimigos. Para prevenir isso, nós enfatizamos a educação ideológica. Durante a luta, nós encontramos muitas dificuldades. Por exemplo, quadros separados das suas famílias e ideologicamente fracos poderiam algumas vezes decidir voltar para suas famílias, para longe da revolução. E algumas vezes os quadros que estavam trabalhando ilegalmente e na administração inimiga estavam recebendo altos salários. Faltando uma visão revolucionária, eles poderiam ser comprados. Assim nosso partido pode ver que a ideologia era o ponto-chave na implementação da linha política assim como a linha organizacional. A construção ideológica do partido encontrou dois caminhos: pela destruição da linha ideológica incorreta e pela construção dos corretos ponto de vista revolucionários do partido. Por exemplo, nós tivemos que:


(1) Construir um ponto de vista ideológico de classe fundamental no partido, a consciência da classe operária. Para fazer isso, tivemos que definir as diferentes classes em nossa sociedade e as contradições entre estas. A partir dessa base, nós armamos nossos quadros ideologicamente com pontos de vista da classe operária. Isso estava claro pela explicação do espírito de sacrifício para o bem de todos e a necessidade de abandonar a propriedade privada em favor da propriedade coletiva; e ensinando-os a disciplina do partido, amor ao partido, trabalho, métodos de crítica e autocrítica, e os meios de se unirem fortemente com as massas;


(2) Construir o ponto de vista ideológico do patriotismo revolucionário e internacionalismo revolucionário, o primeiro sendo ponto fundamental. Através disso lutamos energicamente para fazer nossa própria revolução, lutando com êxito contra o imperialismo e o revisionismo em nosso país. São avanços e suportes da linha internacional. Falar em internacionalismo enquanto falhamos em conduzir a revolução em nosso país é algo sem sentido. Temos que concretizar isso. Nós tentamos ensinar ao nosso povo os princípios da autoconfiança para evitar que sejamos uma carga para os países amigos. Enquanto for possível ajudar-nos, eles devem fazer suas próprias revoluções e melhorar o padrão de vida do seu povo. Assim, nós tentamos o máximo possível evitar que sejamos muito nacionalistas, e assim evitar sermos muito internacionalistas;


(3) Construir o ponto ideológico de manter um constante ardor revolucionário, especialmente o desejo em ser igual ao povo simples, especialmente os camponeses pobres. Isto porque os quadros do nosso partido, nossos homens e mulheres no exército não recebem salários; eles são ensinados a servir o partido e receber apenas do partido. Desse modo nós estaríamos criando uma nova classe dominante separada das massas;


(4) Desenvolver o conceito da perspectiva das massas e linha de massas, que significa, ter total confiança nas massas e viver junto as massas, especialmente os camponeses pobres. Somente fazendo isso a revolução pode obter vitória e levantar suas forças. Enfatizamos isso aos quadros porque existem alguns que são de origem pequeno-burguesa, especificamente os intelectuais que faltam confiança nas massas, especialmente nos camponeses pobres. Conquistaram o inimigo, fazem trabalho produtivo e tudo mais. Porque eles podem fazer tudo, nós devemos servi-los;


(5) Os quadros também são instruídos na vigilância revolucionária, que significa tomar cuidado, estar atento contra o inimigo;


(6) Nós os armamos com um entendimento do materialismo dialético para permitirmos que analisem coisas e entendam os pontos ideológicos do partido. Todos estes pontos ideológicos foram propagados nas sucursais e células do partido. Isto não era pela leitura dos documentos, mas pela análise das atividades diárias, determinando o que estava saindo errado e corrigindo os desvios. Então, para os nossos livros, eles tem apenas umas poucas páginas no total, como breve documentos são mais adequados para os camponeses pobres. Nós também temos alguns cursos, maioria curtos para pequenos grupos em trabalho clandestino para duas ou três pessoas apenas ou duas vezes no mês. Há também outros cursos mantidos em torno de duas vezes por ano no qual os membros do partido são introduzidos aos conceitos revolucionários educados em nossa linha política, ideológica, e organizacional. Ainda agora, após a libertação, acreditamos que o fator ideológico é um fator determinante. Na educação dos quadros, nós colocamos em ênfase a destruição dos pontos de vista da velha sociedade que permanecem poderosos. Entre os quadros líderes, também enfatizamos a defesa e a construção do trabalho da conscientização da classe trabalhadora. Isto é para evitar o revisionismo. Quando um partido se torna revisionista é por causa dos membros ordinários se tornarem revisionistas, mas é porque a liderança conduz o partido através do revisionismo. Embora dizermos muito pouco sobre o revisionismo fora do partido, dentro do partido lutamos muito contra o revisionismo. É até certo ponto para esta reação que evitamos usando os documentos de outros. Contamos na maior parte com nossas avaliações da luta de classes. Isto é mais concreto. Alguns de nossos quadros que viveram além-mar, e que trabalharam com comunistas estrangeiros afobados, regularmente requeriam documentos estrangeiros, dizendo que nós negligenciávamos o estudo do Marxismo-Leninismo. Mas nós dizemos a eles que o Marxismo-Leninismo se desenvolve através dos meios da luta do povo; nossas experiências são genuínos documentos Marxista-Leninistas.


IV. A Linha Organizacional do Partido


Construímos o partido ideologicamente e organicamente através da confiança em nossa análise de classes, tomando os camponeses pobres e as classes trabalhadoras como classes fundamentais. Aqueles que entraram a partir da pequena-burguesia ou outras classes tentaram promover os pontos de vista destas classes, mas eles tiveram que renunciar seus velhos pontos de vista e desenvolver a consciência da classe trabalhadora. Os quadros são avaliados na bases de suas atividades concretas. Seu espírito deve ser limpo, incorruptível, e sem laços de contato com o inimigo. Nós investigamos a vida, histórias, e origem de classe antes e depois deles aderirem à revolução. Nós fazemos isso para prevenir a infiltração por exemplo da CIA, KGB ou agentes vietnamitas. Adotando estes princípios organizacionais, temos unidade no partido e podemos purgar nosso partido dos maus elementos [5]. Nós ainda não estamos 100 por cento exitosos. O inimigo continua tentando minar o partido. Consequentemente estamos nos esforçando para fortalecer a educação político ideológica e para limpar o partido. Em suma, podemos dizer que nosso partido é integrado e unido através deste trabalho político, ideológico e organizacional. Tornou-se mais e mais forte. Aprendemos que, tão logo você tem um partido forte e limpo, você terá um movimento revolucionário forte. Continuamos mantendo distância em viajar por este caminho, e o inimigo, ambos imperialistas e os revisionistas bem como os vietnamitas continuam a lutar contra nós. Portanto, a construção do partido continua de uma geração para as próximas. Temos esperança em evitar a possibilidade da nova geração se tornar revisionista. Se pudermos guardar seguramente os interesses do nosso país, também iremos contribuir para a luta em todo o mundo. Conhecemos sobre a emergência do revisionismo na União Soviética e estamos entristecidos com isso. E sobre a destruição do partido indonésio pelo inimigo. Também temos aprendido a partir dessas experiências, e as experiências de outros partidos. Tentamos não falhar pelo caminho.


Pergunta: Existe um perigo aqui? Fora do país ou dentro do partido? Um perigo de uma nova crise sendo criada?


Para esclarecer a natureza dessa luta dentro do partido, sim, existem ambos os perigos. Dentro do partido, existe uma contradição entre os pontos de vista da propriedade privada e a propriedade coletiva. Se não tomarmos cuidado, pode se tornar antagônica. A outra contradição é externa. O Vietnã em particular, está tentando minar nosso partido por meios militares, econômicos e ideológicos. Os vietnamitas também tentam se infiltrar no nosso partido. Não estamos preocupados sobre agressões externas ou militares. Nos preocupamos mais sobretudo com o inimigo interno.


Pergunta: Por que o trabalho ilegal continua como trabalho básico ou fundamental?


Nesse período, após a libertação, o trabalho secreto é fundamental. Nós não usamos muito os termos “legal” ou “ilegal”; usamos os termos “secreto” e “aberto”. O trabalho secreto é fundamental em tudo o que fazemos. Por exemplo, a eleição de camaradas para guiarem o povo são secretas. Os lugares onde nossos líderes vivem são secretos. Mantemos tempos de visita e lugares secretos, e assim por diante. Por um lado, isto é um assunto de princípio geral, e por outro lado, é um meio de defender a nós mesmo do perigo de infiltração inimiga. Onde houver luta de classes ou imperialismo, o trabalho secreto permanecerá fundamental. Somente através do segredo poderemos ser mestres da situação e obter a vitória sobre o inimigo que não conseguirá saber quem é quem. Isto também se aplica em assuntos estrangeiros. Por exemplo, a União Soviética queria vir para Phnom Penh durante a libertação. Eles estavam se preparando para enviar pessoas para a embaixada. Dissemos que não seria possível recebe-los e ele ficaram furiosos. Baseamos tudo no segredo. Estes são interesses da classe trabalhadora.


Pergunta: Por que vocês não mencionam os soviéticos externamente?


Dentro do partido lutamos resolutamente contra a União Soviética, mas nós temos muitos inimigos agora. O imperialismo norte-americano, Tailândia, Vietnã? E por motivos táticos devemos limitar nossos inimigos o máximo possível. Isto poderia ficar claro que nos opomos à União Soviética e ao revisionismo, mas nossa linha deveria ser diferente da linha tomada pela China porque somos um país pequeno. Tome outro exemplo: a nossa atitude em torno dos “três mundos”. Temos o mesmo ponto de vista, exatamente o mesmo, mas como fazemos, temos que levar em mente os interesses concretos do nosso país.


Pergunta: Vocês possuem um programa partidário?


Sim, temos um, mas somente em kampucheano. Continuamos a ter muitas tarefas; externamente ainda não temos trabalho de propaganda suficiente. Os inimigos vietnamitas estão prontos a fazer muita propaganda internacional contra nós, por causa das insuficiências em nosso trabalho de propaganda na área internacional.


V. Sobre o trabalho concreto antes e após a libertação


Antes da libertação, as atividades legais tocavam trabalhos realizados por diferentes organizações como as uniões estudantis, associações de trabalhadores, associações de mulheres, e outras organizações. Fizemos tudo o quanto nos era permitido fazer sob as leis do inimigo. Também há subcategorias de atividades não legais ou não abertas: semiabertas, formas semi-secretas, ou semilegais. A celebração do 1º de maio por exemplo era de ambos os lados legal e ilegal. Ainda que a classe dominante nos pegasse, celebramos o 1º de maio. Mantemos a tradição desde que esta foi estabelecida. Possivelmente é diferente na sua região. Anteriormente o Partido Comunista do Kampuchea nunca foi legal. Isto também é verdade em outras organizações que criamos. Desenvolvemos a tática de segredo primeiramente, para defender a nós mesmo, segundo, para mobilizar mais forças, e finalmente para servir à nossa luta, por exemplo, em mobilizar intelectuais. Descobrimos que eles não poderiam aderir à nós se usássemos formas semilegais, mas com formas legais como celebrações e visitações aos templos, eles aderiram. portanto, os fizemos aderir passo a passo. Muitas atividades semi-secretas, semilegais, ou secretas eram organizadas para proteger todas as atividades ilegais e secretas do centro do partido. Portanto, quando o inimigo nos atacou por fora, ele atingiu somente atividades semilegais e semi secretas, e estávamos prontos para defender nosso partido e liderança. Na sociedade neocolonial e semifeudal, tínhamos que trabalhar em absoluto sigilo, tanto dentro do partido como dentro de outras organizações. Isso também se aplicou aos membros que trabalhavam entre as massas. Desde a libertação, continuamos com o trabalho secreto porque consideramos que a linha estratégica é mais importante que a tática. Temos publicado os nomes de somente uns poucos dos nossos quadros e membros. Nem tudo precisa ser em público. Durante a guerra, todos eles eram secretos nessa área, aprendemos com a sangrenta experiência do Partido Comunista da Indonésia [6].


Operando secretamente, a nossa organização tinha regras para seguir. Três membros são requeridos para formar uma célula, por exemplo numa fábrica. Se há mais que três membros, um secretário da célula deve direcionar o trabalho do partido. Se há mais de seis pessoas, formamos duas células separadas, sem ter contato uma com a outra. Ainda com cinco pessoas, organizamos duas células separadas do partido, que podem trabalhar secretamente e separadamente. Se o inimigo descobre uma célula, a outra pode continuar seu trabalho. Não há contato direto entre as células. Em cada fábrica, existe um quadro liderando. Só ele conhece isso. Ele pode ir diretamente para a liderança. Esses procedimentos também se aplicam a outros setores como os estudantes. Formamos células sem terem conhecimento uma das outras e estão incapazes de se contatarem. O mesmo se aplica aos contatos entre quadros designados e a liderança. Contatos são arranjados através de uma terceira pessoa. Se o inimigo captura o quadro líder, ele não estará apto a identificar a liderança, somente os intermediários. Esta é a nossa organização secreta. A partir da nossa experiência, o sigilo é somente um aspecto da construção da organização. De grande importância é o nível ideológico dos quadros líderes designados. Eles devem mostrar grande disciplina. Temos que ser especialmente cuidadosos quando o trabalho tiver que ser realizado nas cidades. Os quadros podem ser forçados a fugirem às pressas. Eles não devem viver com seus familiares. Quando eles o fazem, as coisas ficam complicadas. Tornam-se demorados para fugir. Tivemos alguma experiência amarga com estas coisas. Depois disso, decidimos observar mais estritamente a disciplina do partido. Permita-me dizer que estamos falando de experiências concretas em nosso país. Está com você decidir o que vocês podem aprender com essas experiências fora dos sentimentos de amizade revolucionária. Sigilo significa evitar a lei. Por exemplo, temos que fazer nossos próprias carteiras de identidade ou então nossos nomes não aparecerão nos registros. Se o inimigo capturou carteiras de identidade verdadeiras, fotos e permissões de trabalho, isto tornará bem fácil de nos encontrar. Além do mais, se os revolucionários não fazem qualquer trabalho, o inimigo nos notaria fortemente. Abrimos uma livraria para nós mesmo, mas para evitar de verem nossos nomes, nos escondemos atrás de uma terceira pessoa e do seu nome. Durante a guerra muitos quadros tiveram que deixar os seus trabalhos periodicamente e tínhamos que protege-los. Contatos e visitas eram durante a noite; eram aulas de treinamento político. Nos trancamos em uma sala por dois ou três dias até estarmos prontos. Contatos entre líderes publicamente conhecidos, como aqueles que trabalhavam no parlamento e líderes secretos eram arranjados através de duas ou três pessoas. Empregamos várias táticas para superar a opressão do inimigo. Para visitas em uma casa, por exemplo, usávamos sinais, como um lenço na frente da casa. Se o lenço estava no lugar, era seguro de entrar; se não estivesse, é porque o inimigo estava lá. No início nós perdemos muitas pessoas para o inimigo porque o inimigo conhecia os sinais secretos. A partir disso, aprendemos a não ir diretamente para a casa, mas caminhar em volta da vizinhança, talvez ir para uma loja, beber alguma coisa e perguntar sobre o que estava acontecendo na casa. Algumas vezes pessoas boas nos contavam segredos sobre o inimigo. Algumas vezes os vizinhos não eram revolucionários, mas eles podiam nos alertar se espiões e agentes estavam lá. Também usamos mensageiros para mensagens, cartas, carregar munição, etc. Aos mensageiros não era permitido saber nossos verdadeiros locais de residência. De outra forma, os mensageiros capturados poderiam ser forçados a revelar. Tínhamos que usar uma ponte de duas ou três pessoas. Se um mensageiro falhasse em aparecer, não fazíamos nada por dois ou três dias. Mas após isto, tínhamos que nos mover para outro lugar. Quando o inimigo aprendia isso, eles torturavam mensageiros capturados para nos capturar imediatamente. A partir da experiência amarga, aprendemos a abandonar a casa segura de uma só vez se um mensageiro estivesse duas ou três horas atrasado. O inimigo veio de imediato poucas vezes e tivemos que usar armas para permitir a fuga dos quadros líderes. Isso pode lhe dar uma ideia das nossas experiências. As táticas e técnicas são de importância secundária somente; o mais importante é o ponto de vista de classe dos quadros. Desde a libertação, nossa experiência relata para atividades anti-partido realizadas dentro do nosso partido. Elas geralmente envolvem a CIA, vietnamitas e agentes da KGB. Nossas experiências nessa área são muito recentes, mas aparentam a partir do que pudemos aprender que a CIA, agentes vietnamitas e agentes da KGB estavam trabalhando dentro do nosso partido por um longo tempo. Quando observamos que alguma coisa estava errada, pensamos que era uma contradição interna e tentamos resolver por meios de persuasão, autocrítica, etc. Por exemplo, o partido tinha diretivas para um ramo relativo às condições de vida do povo. Quando nada mudou, imaginamos que alguma coisa estava errada. Havia aí desvios para a esquerda ou para a direita, observamos cuidadosamente a experiência dos quadros. Também buscamos a opinião das massas. Estávamos portanto prontos para descobrir os agentes inimigos, passo por passo. Geralmente descobríamos quando eles estavam engajados em atividades inimigas por um longo tempo. Algumas vezes bons camaradas foram aprisionados e torturados e depois se rendiam ao inimigo. Após a libertação, eles serviram como agentes. Nós os recebemos de volta, aceitamos, sem olhar o que aconteceu na prisão. E agora nós percebemos que se tornaram agentes do inimigo. Está mais amplamente conhecido que os EUA planejaram nos tirar do poder seis meses após a libertação. O plano envolveu a ação conjunta por parte dos EUA, KGB e Vietnã. Era para ser uma luta combinada por dentro e por fora. Mas nós esmagamos o plano. Imediatamente após a libertação, nós evacuamos as cidades. A CIA, KGB e os agentes vietnamitas estavam indo para o campo e estavam incapazes de implementar o plano. As pessoas que infiltraram-se no partido não puderam reagir imediatamente, mas nós os descobrimos depois que eles planejaram golpes de Estado. Estas pessoas não eram fortes; suas intenções eram a de explorar a oportunidade provida pelos ataques do Vietnã para assassinar nossos líderes e tentar anunciar isto ao mundo. Embora dizemos que os planos foram quebrados, não vemos que o inimigo se entregou. Temos que continuar a construir e defender nosso partido, nossa liderança e apreender as pessoas que estão infiltradas no nosso partido. Sabemos que os atuais planos envolvem não só agentes vietnamitas, mas teve alguma coisa a ver com o imperialismo norte-americano e a KGB. Todos eles! Algo similar ocorreu no Iêmen, tanto do Norte como do Sul. E no Afeganistão. Mas como estas coisas acontecem, a face dos soviéticos torna-se cada vez mais clara.


Pergunta: Existe uma cooperação entre a CIA e a KGB ou há uma rivalidade pelo controle do Kampuchea?


Ambos. De um lado eles coperam; de outro, eles são rivais. Por exemplo, o Vietnã nos atacou no último mês de outubro a dezembro enquanto que operações foram conduzidas pelos EUA com seus agentes da CIA próximo das nossas ilhas na costa e na fronteira com a Tailândia. Eles competem pelo controle ao mesmo tempo. Esta é uma forma aberta de cooperação. Quanto a uma forma secreta, alguns agentes da CIA aderiram aos vietnamitas para irem ao Kampuchea. Isto porque os EUA estavam incapazes de virem ao Kampuchea, então tiveram que confiar no Vietnã. Os vietnamitas não discriminam ao escolher agentes. Eles aceitam qualquer um que luta contra o Partido Comunista do Kampuchea. Inclusive agentes da CIA! O aparato da liderança deve ser defendido a qualquer preço. Se perdermos membros, mas retermos a liderança, continuaremos a obter vitórias. Defender a liderança do partido é estratégico. Tanto tempo sendo líder – “o barco está aqui”, o partido não irá morrer. Pode não haver comparação entre perder dois ou três quadros e 200-300 membros. Em vez do anterior. Caso contrário, o partido não terá cabeça e não poderá liderar a luta. Isto foi demonstrado pela experiência do Partido Comunista da Indonésia. Sua liderança foi 90% destruída. Isto tomou um longo tempo para se restabelecerem. Treze anos se passaram desde 1965 e o partido ainda não está reconstruído. Não sabemos quanto tempo isto irá levar para eles retomarem o poder de ofensiva que eles tinham anteriormente. Construir uma boa liderança é estratégico. Leva uns 10-20 anos para construir uma boa liderança comunista. Se você perde um, você perde um monte. E o sigilo do partido pode se perder.


VI. Construindo e Liderando o Movimento Revolucionário


Como nos já dissemos, a partir de 1960 nós consideramos os operários, camponeses, a pequena burguesia e personalidades patrióticas como sendo forças estratégicas. A classe operária é a classe progressista, enquanto a classe majoritária é o campesinato. As outras classes são secundárias, forças aliadas. Os capitalistas nacionais progressitas eram secundários, forças táticas mobilizadas em instâncias particulares. O próximo passo era montar a linha estratégica. A luta rural era a luta fundamental. Dividimos nossos quadros entre as cidades e o campo, de acordo com as suas habilidades. Antes de 1960, havia alguma confusão sobre isso. Não pudemos ter uma linha partidária muito clara. Havíamos desenvolvido bases nas zonas rurais, mas o inimigo destruiu mais de 90% delas. Além disso, não éramos fortes nas cidades. Nós concluímos em 1959 que carecíamos de forças estratégicas necessárias para o avanço da revolução! Somente depois de 1960 que pudemos designar nossas forças corretamente. A maioria deles foram enviados para trabalhar entre os camponeses; muito poucos entre a pequena burguesia, estudantes e intelectuais; muito poucos trabalharam entre os capitalistas nacionais e as personalidades de alto nível na administração. Uma vez que tínhamos esta linha, pudemos rapidamente construir nossas forças. Em particular, construímos bases em áreas rurais. Como o movimento de massas ficou cada vez mais forte, estávamos prontos para construir o trabalho legal e ilegal. Pudemos ainda formar passeatas. De 1962 até 1963, em particular, nossas forças cresceram cada vez mais. [8]


Os nossos melhores quadros trabalhavam entre os camponeses pobres construindo bases em áreas rurais nas regiões mais remotas. Eles tinham que transformar eles mesmo assim também como trabalhar entre os camponeses. Inicialmente, havia muitos problemas. Enquanto isso nas cidades, os quadros tinham que se tornar operários. As condições nas cidades e no campo eram bem diferentes nas áreas rurais, as condições de vida eram muito ruins, mas havia poucos inimigos. Nas cidades, as condições de vida eram melhores, mas havia muitos inimigos. Ambos os lugares tinham vantagens e desvantagens. Os quadros tinham que ser selecionados de acordo. Havia muita malária no campo. Alguns quadros se recusavam a trabalhar lá, mas tínhamos que trabalhar para fazer e tínhamos que fortalecer seus pontos de vista ideológicos. Quando olhamos de volta para este período, concluímos que não teríamos obtido esta tipo de grande vitória sem antes superar tais obstáculos. Nós vemos dois principais pontos de virada: se não tivéssemos nos reorganizado em 1960, não poderíamos ter iniciado a luta armada em 1968; se não tivéssemos iniciado a luta armada em 1968, não poderíamos ser os mestres da situação na época, durante o golpe de Estado de 1970. O inimigo de outra forma teria destruído nossas forças. Para ser mestre da situação, para confiar em suas próprias forças, para ser soberano? Estas palavras só possuem significado se tivermos as forças do povo em nossas mãos. Se não, elas irão falhar nas mãos do inimigo. A coisa mais importante era possuir as forças nacionais em nosso país. Isto era para nós a maior lição. Procuramos enfatizar a coisa certa em reunir forças. Isto é importante em todos os períodos da revolução. Atualmente, no período da revolução socialista, nosso poder é tão grande quando durante a revolução nacional democrática. Tome por exemplo, os pequenos capitalistas que foram evacuados das cidades. Inicialmente eles tiveram dificuldade em viver no campo, mas gradualmente eles se tornaram orgulho da revolução. Eles veem perspectivas para suas crianças, que a nossa revolução é limpa, e que somos independentes e soberanos. Eles sabem que nós podemos nos defender do Vietnã e eles possuem confiança em nós. Assim como para os intelectuais que permaneceram no exterior, alguns nos apoiam. Na França uma associação expressou solidariedade conosco contra o Vietnã. Somos poderosos agora tanto como éramos na primeira revolução: 85 por cento da população pertence à revolução como operários e camponeses, e 80-90 por cento dos intelectuais pertencem a ela. Somente dez por cento são diferentes. Nós tentamos educar estas pessoas e eles sabem que a revolução é boa para eles para seus filhos. Assim crescemos mais e mais. Nós reunimos forças de diferentes camadas, em diferentes períodos poque cada uma reconhece o espírito patriótico dos comunistas. Os feudalistas diziam coisas ruins sobre o Vietnã e sobre os EUA sem fazer nada. Eles eram corruptos e fizeram o Vietnã vir 100 kilômetros, 200 kilômetros, meio kilômetro através da fronteira, corrompendo a polícia. Os vietnamitas ainda rastejaram para o nosso país pelo que eles chamam de “meios legais”, especialmente na província de Takeo e Svay Rieng. Mas quando o poder veio para as mãos do partido, todo mundo viu que nós poderíamos sustentar alto a bandeira da independência. Eles concluíram que os comunistas eram limpos, que nós vivemos como vivem as pessoas comuns, enquanto que nos velhos tempos, quando o povo vivia no modo capitalista, a sociedade se desintegrava. Assim que o povo entendeu, eles seguiram o caminho comunista e nós pudemos facilmente mobilizar forças.


VII. Formando a Frente Unida Nacional


O que fizemos para que Sihanouk se juntasse a nós? Eramos capazes de mobilizar forças após o golpe de Estado porque tínhamos feito preparações por um longo tempo. Éramos mestres da situação. Tínhamos um exército; tínhamos algumas armas. Ainda, eramos capazes para formar uma frente unida. Nós ainda permitimos ao Rei Sihanouk tornar-se presidente da frente. Não significava nada porque éramos os mestres da situação. Após o golpe, Sihanouk estava reduzido de tudo ao nada enquanto para nós não era o oposto? Nas cidades assim também como no campo. A forças das camadas básicas da sociedade eram essenciais para alcançar a adesão dos de níveis mais altos a nós. Esta é a primeira lição. A segunda lição e experiência concerne às atividades da frente. Não tivemos sequer um instante fácil nisto. O inimigo tentou corromper Sihanouk? Os EUA, a França, os revisionistas soviéticos? E separá-lo da frente. Sihanouk não saiu porque ele obteve vitória após vitória no nível básico. Sihanouk poderia ter nos deixado, especialmente em 1973 quando o Vietnã sentou na mesa de negociações com os EUA. Sihanouk estava assustado por estar sozinho; ele vivia perguntando se éramos capazes de continuar a luta. Ele quis negociar, mas dissemos a ele que poderíamos continuar a luta até o fim. Terceira, descobrimos que tínhamos que lutar dentro da frente com Sihanouk ao mesmo tempo em que nos unimos com ele externamente. Sihanouk perguntou por coisas; fizemos ele tê-las o máximo possível desde que não contrariasse nossa política estratégica. Tínhamos que ser bem flexíveis com ele. O slogan do partido era: “Não empurre alguém para o inimigo”.


VIII. A luta urbana, 1960-73


Nossa luta nas cidades teve dois componentes: a luta legal e a luta secreta. A luta urbana não era tão importante como a luta no campo, mas seu impacto era sentido em todo o país e em nível internacional. Além do mais, a luta teve um efeito importante no nível médio da classe dominante, mesmo apesar do fato da cidade ser o quartel general da classe dominante e do seu aparato de repressão. Algum trabalho legal foi realizado na Assembleia Nacional. Nós não tentamos obter assentos; usamos as personalidades patrióticas para fazer propaganda. Estes dignitários não agiam em nome do partido, mas o partido em essência estava sob a propaganda. O trabalho era limitado. Só fizemos o nosso povo usar slogans estratégicos para despertar o povo. Ao mesmo tempo, usávamos jornais, promovíamos rumores e perguntávamos ao povo para seguir deputados que conseguiram entrar na assembleia. Neste caminho, trabalhamos até o topo, fazendo o povo nos seguir enquanto ao mesmo tempo trabalhávamos nos níveis básicos. Apesar de sermos capazes de trabalhar legalmente na Assembleia Nacional, nossos deputados estavam algumas vezes sujeitos à repressão. Nós poderíamos então tentar colocar nossas ideias em outros deputados ao dizer a eles: “se vocês disserem isso e isso, o povo irá segui-los e o elegerão novamente”. E algumas vezes eles tentaram isto. Quando os nossos slogans eram usando antes, o povo, o povo aplaudia. Os deputados ficavam encantados. Depois eles puderam perguntar-nos sobre o que dizer e se poderíamos passar mais de nossos slogans para eles. Alguns de nossos camaradas não conseguiram entender e pensavam que fazendo isso, poderíamos estar fortalecendo a influência das classes dominantes. Mas não pudemos achar que isto fez algum prejuízo. Se podíamos captar algumas coisas da essência de nossas ideias para o povo, então podíamos pegar algumas destas do povo para nós. Havia dificuldades na luta com os nossos jornais. Quando a classe dominante percebia que um jornal particular era secretamente estabelecido pelo partido, ele poderia acabar fechado em menos de três meses. Nós pudemos então fazer os camaradas escreverem anonimamente para jornais de natureza mais neutra. Algumas vezes o papel teria metade das letras cortadas. Fizemos isto no entanto; para colocar algumas ideias para fora. Também fizemos o nosso pessoal responder a artigos de jornais reacionários, escrevendo cartas para o editor pedindo para o editor parar de imprimir visões reacionárias. No caso dos jornais mais reacionários, não poderiam ser restringidos por algum meio, nós convocávamos protestos em seus escritórios. No caso do Phnom Penh Press, um jornal da CIA e o mais reacionário de todos, nós fizemos as pessoas saquearem o local. Entre outras das nossas atividades nas cidades, promovíamos performances artísticas entre o povo e arranjávamos viagens para áreas rurais nos festivais, cerimônias, e assim por diante. Estávamos então prontos para tornar nossas forças cada vez mais fortes em todos os níveis da sociedade. Escolhendo o slogan correto, o slogan que expressava a situação? Perguntando não muito, não muito na situação? Era crucial para o nosso trabalho nas cidades. Não conseguimos usar palavras como “revolucionário”, “comunista”, ou “vermelho”, por exemplo. Ao invés usamos palavras que todo mundo poderia aceitar como por exemplo “lutar contra o imperialismo norte americano”, “lutar por soberania”, etc. O povo estava especialmente assustado com as palavras “comunista” e “revolucionário”. Mas as fizemos adotar a nossa linha partidária? As pessoas que estavam de outra forma com medo de “revolução” e “comunismo”? Então essas pessoas, apesar de seus medos, estavam prontas para levantar a bandeira do nosso partido. Nós ainda trabalhamos com o movimento dos monges budistas, fazendo-os nos seguir dizendo que poderíamos defender o país e a religião. Se o país iria se tornar dominado por estrangeiros, não haveria mais alguma religião. Então os monges, também, levantaram a nossa propaganda ainda que eles não gostassem do comunismo. Nós trabalhamos não somente entre os monges rasos? Eles não eram tão reacionários em todo caso? Mas também entre os monges de alta graduação que controlavam partes vastas do país. Usavamos slogans de oposição à supressão cultural do Kampuchea. Os monges então se tornaram patrióticos, apoiando-nos sem estarem cientes disso. Tambem trabalhamos com grandes personalidades como Penn Nouth. Aqui, tivemos que ser cuidadosos. Tínhamos que solicitar suas ideias, não fazer proposições, não propagar. As personalidades patrióticas de alto nível não eram uma força importante, mas estávamos tentando reunir todas as forças em apoio à nossa luta, especialmente nas cidades. Perguntamos por exemplo, “o que vossa excelência pensaria se os EUA atacassem o país?” Ele poderia então pensar sobre isto e poderia incutir ideias sobre o que deveria ser feito. Os dignitários então nos ouviam e falavam para os outros sob sua influência. Assim, Penn Nouth não sabia que ele propagandeava para os comunistas. Estas eram formas diferentes de luta legal nas cidades. Entretanto, colocamos maior ênfase na luta secreta. Sem a luta secreta, a luta legal não poderia ter sido bem-sucedida. Estas duas formas de lutas interagidas e complementadas umas com as outras, mas o trabalho secreta era o mais importante. Tínhamos que educar os nossos quadros sobre o trabalho secreto assim como o trabalho legal. Quando a situação era fácil, os quadros procuravam trabalhar legalmente assim como ter a chance de ganhar um título, dinheiro, etc. Quando a situação era difícil, eles preferiam ao invés de trabalhar secretamente. Consequentemente eles tinham que ser educados continuamente, assim como ficarem prontos para permanecer firmes em seus postos ainda com risco em suas vidas. Eles poderiam não assumir novos deveres por si mesmos, sem antes o partido dar autorização. Isto era o trabalho ideológico. Antecipando dificuldades, nós tomamos precauções. Criamos bases no campo que poderiam receber pessoas engajadas no trabalho secreto das cidades. Ainda que o trabalho secreto fosse quebrado, entretanto, não estavam permitidos trabalhar secretamente no campo. Ainda fora no meio aberto? Sempre trabalho aberto. Tínhamos que ser cuidadosos onde as pessoas eram enviadas para que ninguém soubesse antecipadamente. Se não, o inimigo poderia encontrar. Quando os quadros tinham problemas, eles frequentemente pediam para serem enviados para o campo ainda quando o segredo continuava intacto. Por causa disso tínhamos que trabalhar passo-a-passo em seus pontos de vista ideológicos, e tínhamos que ficar de olho naqueles que estavam trabalhando nas cidades? Ou o trabalho secreto ou o legal? Observando especialmente suas condições de vida, e circunstâncias pessoais. Aqueles que estavam trabalhando secretamente não poderiam sustentar trabalhos que as pessoas comuns faziam, então tínhamos que dar assistência a eles para encontrarem trabalhos até certo ponto. De acordo com a correta linha do partido, estávamos prontos para erguer e defender nossas forças. Alguns eram destruídos pelo inimigo, mas para a maior parte estávamos prontos para protege-los; Especialmente após o golpe em 1970 quando tínhamos vastas áreas libertadas. As localizações de nossas bases mais importantes eram um segredo. Nem mesmo os eletrônicos norte-americanos puderam descobri-los. Apesar dos bombardeios norte-americanos terem destruído um monte, eles não eram muito efetivos porque estávamos vidrados na nossa linha secreta de luta. As forças vietnamitas no Vietnã eram bem menos clandestinas e menos secretas do que nós éramos, e por causa disso a maioria deles foram destruídos. Ainda os vietnamitas aqui foram mais atingidos do que nós. O nosso povo e soldados chamavam os B-52 de “os cegos”. Quando eles vinham, eles jogavam bombas sem olhar. Ele não davam bola em quem iriam ou não acertar. O nosso povo não estava muito assustado com os B-52. Aprendemos que o quanto mais preservarmos o nosso segredo, nossa luta poderia continuar enquanto fosse necessário. Ainda que a artilharia de origem norte-americana fosse ineficiente quando não sabia quem ou onde estávamos. Dentro dos limites. Alguns de nós fomos atingidos, mas não dissemos aos nossos quadros que não se assustassem, para que se mantivessem bem escondidos e assim seríamos todos capazes de interromper os imperialistas norte-americanos.


[Nuon Chea concluiu sua declaração neste momento, uma vez que o tempo alocado para a reunião já havia passado].


Nuon Chea (7 de julho de 1926 - 4 de agosto de 2019), foi um político comunista cambojano e revolucionário que foi o principal ideólogo do Partido Comunista do Kampuchea. Ele também serviu brevemente como primeiro-ministro interino do Kampuchea Democrático. Em 2014, Nuon Chea recebeu uma sentença de prisão perpétua. Morreu enquanto cumpria sua sentença em 2019.



Traduzido pelo Blog Grande Dazibao


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1 Comment


mvinicius1411982
Feb 26, 2023

Ótimo texto! Sugiro traduzir também este texto aqui: https://www.marxists.org/history/erol/periodicals/class-struggle-us/cs-11-pol-pot.pdf

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